quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Passado presente

Revirando minhas coisas, encontrei esta crônica que escrevi há um bom tempo. A ideia era encaminhar para um concurso, mas como sempre acho inúmeros defeitos nos meus textos e acabei engavetando...rsrs. Espero que goste!


Aquele ano sombrio de 1964 ainda causa calafrios e repulsa. É inevitável não fazer alguma ligação quando se vê atos de censura ou repressão nos dias atuais. O mais interessante é que eu nasceria depois de 21 anos, exatamente no fim deste regime ditatorial e opressor, e no início de uma “nova era”, pois em 1985 era eleito o primeiro presidente do Brasil no voto direto, Tancredo Neves.

Apesar de falecer na véspera de sua posse, o sentimento de mudança era visível, não só em famílias que foram brutalmente desmembradas e privadas do convívio com entes queridos, como para uma nação que buscava a luz no fim do túnel.

Relembrar um passado tão indigesto, em um breve relato é desmerecer lutas que foram enraizadas e deram um novo horizonte a um país mergulhado na loucura e no caos.

Embora eu não tenha vivenciado esta época, a busca por este assunto me aflora indagações se realmente nos livramos desse passado triste.

Será que este período da história não deixou resquícios na sociedade atual? Seremos nós filhos de uma pátria livre, que gozamos do poder absoluto sobre nossas vidas? Basta remeter o pensamento e virá à tona, em uma realidade impetuosa.

Aqueles que deveriam resguardar a segurança e a ordem “sacam” o desespero e o fim. Aqueles que deveriam defender o interesse coletivo atuam no individualismo e na prepotência da impunidade. Outros buscam na lei mecanismos frágeis para censurar cidadãos, que saem do estado de ópio e veem no ciberespaço ferramenta essencial para a mobilização.

Vivemos em uma sociedade acuada que observa a cada dia os filhos de um Brasil varonil marginalizados por sua cor, crença e status social. Os papéis foram invertidos, deixando de lado os valores éticos e morais. O uso da força se faz presente em manifestações, greves trabalhistas e estudantis.

Realmente ainda não entendo porque somos tão pequenos e fracos. São mais de 190 milhões de brasileiros, que aceitam e se conformam com as brutalidades do dia a dia, de tão banalizadas, parece não chocar mais.

Será que temos adormecido em nós um visionário Policarpo Quaresma que precisa ser beliscado para despertar a realidade, e assim, perceber que a luta é a principal forma de exercer a igualdade ou apenas se fazer notar em uma imensidão de estrelas solitárias e que brigam entre si pelo melhor brilho? Ou viveremos como um Dom Quixote e deixaremos enveredar para o caminho das alucinações e acreditar em tudo que nos é dito?.

Hoje as receitas de bolos nos jornais são sugestões para um momento família, enquanto a censura vem em forma de petição judicial, e a violência.....ah, essa ainda está presente, fazendo vítimas, sendo utiliza como primeira opção para manter a ordem e tomando contornos ainda mais sórdidos.

Não quero somente pintar a cara e escrever o meu nome na história, mas sim realizar uma luta silenciosa, mesmo longa, que aos poucos vai se desenhando e trazendo o reagir de uma massa atônita com episódios atuais e tão inertes em suas ações.

Temos que largar aquele discurso panfletário e partir para uma ação em defesa daqueles que hoje vivem a margem de tudo e de todos. Seres invisíveis que vivem no século 21, mas que ainda se rastejam e são massacrados por uma minoria que detém de um poder arbitrário e tendencioso.

O conformismo são as nossas amarras que impedem qualquer reação e iniciativa, perante as ações de abuso. Não quero ver um país apenas em duas cores, preto e branco. Quero a pluralidade de tons, a miscigenação de uma nova identidade capaz de perceber o poder que tem. Mas não podemos esquecer toda essa história, e assim, perceber a importância de questionar e lutar pelos seus direitos.

Você caro leitor deve se perguntar, o que eu estou fazendo para mudar a realidade que aqui escrevo. Eu....,eu estou escrevendo pra você, que com certeza ficará com alguns pontos de interrogação na cabeça e logo fará a mesma pergunta para si. Assim terei plantado uma pequena semente do questionamento e este será o meu legado deixado aos poucos que, assim como eu, busca nas palavras o despertar do silêncio.

Porque realmente apenas quero lembrar de 1964 para servir de exemplo e não cometer os mesmos erros e injustiças que aconteceram naquele período.

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